Oficialmente, a antiga rodoviária de Salvador, no bairro das Sete Portas, foi desativada na década de 1970. Mas, clandestinamente, ela funciona normalmente até hoje. Dali, duas vezes por semana, saem linhas que levam passageiros para Sergipe.
As empresas Zacarias Tour e Muniz Turismo realizam as viagens todas as sextas e segundas, de Salvador para as cidades sergipanas de Simão Dias e Poço Verde, com passagem a R$ 30. Nas quintas e domingos, o terminal clandestino recebe os passageiros que chegam das mesmas cidades. O percurso é de aproximadamente 350 quilômetros.
A dona de casa Gleide Nascimento Silva, natural de Itabaiana, em Sergipe, viaja com frequência pelas linhas clandestinas, devido ao valor cobrado pela passagem. Na rodoviária convencional a passagem é R$ 58. “Sei que o ônibus é clandestino, mas até hoje nunca tive problema. O perigo está em todo lugar.
Pode acontecer acidente em qualquer ônibus”, disse Gleide, antes de subir num ônibus da Muniz Turismo no dia 17, para passar as festas com a família.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável pela fiscalização do transporte de ônibus entre estados, informa que as duas empresas estão registradas como de turismo, autorizadas a fazer fretamentos, mas não têm autorização para vender passagens para linhas regulares de passageiros.
“Caso as empresas sejam flagradas, podem ser multadas em até R$ 5 mil e ainda ter o veículo apreendido. Além disso, têm de pagar os custos do reembarque dos passageiros em ônibus convencionais”, explica o coordenador de infraestrutura da ANTT, Cláudio René.
O aposentado Luiz Valério de Souza tem família em Simão Dias e viaja com frequência para a cidade natal usando os ônibus clandestinos.
“A gente acha que seguro é só o da rodoviária, mas depois que acontece alguma coisa sempre dá trabalho e o dinheiro que a família recebe é tão pouco que nem vale a pena. É uma mixaria. Aqui, quando eu não tenho dinheiro viajo fiado”, diz.
O terminal improvisado, em frente à Feira das Sete Portas, não tem qualquer estrutura para os passageiros. Bancos plásticos são disponibilizados como assentos de espera. Os embarques e desembarques acontecem sempre às 6h.
José Felipe Neto, dono da Zacarias Tour, afirmou que a empresa de turismo faz linha de transporte regular “só de vez em quando”, apesar de diversos passageiros afirmarem que o serviço é constante.
Zacarias, como é conhecido, disse não saber “que não pode fazer viagem cobrando passagem avulsa”.
Já o dono da Muniz Turismo, Pedro de Menezes Cerqueira, que também é motorista de um dos ônibus, reconhece que o serviço é irregular, mas afirma não ter outra forma de sobrevivência.
“Não tenho autorização para fazer venda de passagem. Já tive algumas multas, mas eu paguei e continuo rodando. Deus deixou o mundo pra todo mundo. Tenho que trabalhar, tenho meus filhos pra criar”, afirma Cerqueira, que mantém a sede da empresa na cidade de Simão Dias.
Tentando justificar o serviço irregular, o empresário diz que ônibus “vai direto”, sem parar em nenhuma rodoviária das cidades que ficam no caminho, tornando a viagem mais rápida. “Se tiver uma forma de licença que seja barata, eu até posso fazer”, afirma Pedro, dono de dois ônibus.
Fiscalização
O coordenador da ANTT admite que a fiscalização para os ônibus que circulam entre estados é insuficiente.
“Não tinha conhecimento dessa rodoviária clandestina que funciona em Salvador. Nosso efetivo hoje é de 85 fiscais para cinco estados (MG, ES, BA, AL, SE). Não há como fiscalizar tudo. Esses fiscais são móveis entre os estados à medida da necessidade”, diz Cláudio René, informando que não há reforço no efetivo de fiscalização neste período de final de ano.
O coordenador da ANTT pede que sejam feitas denúncias de locais que servem com terminais clandestinos. “A Bahia é o grande atravessador de ônibus que vêm do Sudeste do Brasil, por exemplo. É fundamental que o passageiro denuncie”, conclui.
Linha verde é principal destino dos irregulares
Localidades margeadas pela Linha Verde e o Polo Petroquímico de Camaçari são os principais destinos de ônibus de turismo utilizados como linhas convencionais, ou seja, fazendo transporte irregular. É o que afirma Abdul Ramid, agente de fiscalização da Agência Reguladora dos Transportes na Bahia (Agerba).
“Por semana, aplicamos em média 40 autos de infração e nessa época de final de ano e durante o Verão isso aumenta. A multa é de R$ 2,8 mil”, explica Ramid, que coordena o posto da Agerba no Terminal Rodoviário de Salvador — o oficial. Os ônibus de turismo, segundo Ramid, precisam pegar uma licença para cada viagem. Se o veículo for parado numa fiscalização sem esse documento, é multado imediatamente.
“Esses ônibus de turismo não podem fazer o transporte regular de passageiros. No caso de uma linha de turismo, o motorista tem que ir na Agerba pagar uma taxa de R$ 63 e deixar um documento com o nome de todos os passageiros que vão embarcar”, diz.
Segundo Ramid, os fiscais da Agerba se dividem em quatro equipes (BR-324, BR-110 e BR-101 e rodoviária). “Paramos todos os ônibus de turismo para checar os documentos. Mas, nesta época de final de ano, é um fluxo grande de veículos”, explica ele.
Matéria original do Correio
As empresas Zacarias Tour e Muniz Turismo realizam as viagens todas as sextas e segundas, de Salvador para as cidades sergipanas de Simão Dias e Poço Verde, com passagem a R$ 30. Nas quintas e domingos, o terminal clandestino recebe os passageiros que chegam das mesmas cidades. O percurso é de aproximadamente 350 quilômetros.
A dona de casa Gleide Nascimento Silva, natural de Itabaiana, em Sergipe, viaja com frequência pelas linhas clandestinas, devido ao valor cobrado pela passagem. Na rodoviária convencional a passagem é R$ 58. “Sei que o ônibus é clandestino, mas até hoje nunca tive problema. O perigo está em todo lugar.
Pode acontecer acidente em qualquer ônibus”, disse Gleide, antes de subir num ônibus da Muniz Turismo no dia 17, para passar as festas com a família.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável pela fiscalização do transporte de ônibus entre estados, informa que as duas empresas estão registradas como de turismo, autorizadas a fazer fretamentos, mas não têm autorização para vender passagens para linhas regulares de passageiros.
“Caso as empresas sejam flagradas, podem ser multadas em até R$ 5 mil e ainda ter o veículo apreendido. Além disso, têm de pagar os custos do reembarque dos passageiros em ônibus convencionais”, explica o coordenador de infraestrutura da ANTT, Cláudio René.
O aposentado Luiz Valério de Souza tem família em Simão Dias e viaja com frequência para a cidade natal usando os ônibus clandestinos.
“A gente acha que seguro é só o da rodoviária, mas depois que acontece alguma coisa sempre dá trabalho e o dinheiro que a família recebe é tão pouco que nem vale a pena. É uma mixaria. Aqui, quando eu não tenho dinheiro viajo fiado”, diz.
O terminal improvisado, em frente à Feira das Sete Portas, não tem qualquer estrutura para os passageiros. Bancos plásticos são disponibilizados como assentos de espera. Os embarques e desembarques acontecem sempre às 6h.
José Felipe Neto, dono da Zacarias Tour, afirmou que a empresa de turismo faz linha de transporte regular “só de vez em quando”, apesar de diversos passageiros afirmarem que o serviço é constante.
Zacarias, como é conhecido, disse não saber “que não pode fazer viagem cobrando passagem avulsa”.
Já o dono da Muniz Turismo, Pedro de Menezes Cerqueira, que também é motorista de um dos ônibus, reconhece que o serviço é irregular, mas afirma não ter outra forma de sobrevivência.
“Não tenho autorização para fazer venda de passagem. Já tive algumas multas, mas eu paguei e continuo rodando. Deus deixou o mundo pra todo mundo. Tenho que trabalhar, tenho meus filhos pra criar”, afirma Cerqueira, que mantém a sede da empresa na cidade de Simão Dias.
Tentando justificar o serviço irregular, o empresário diz que ônibus “vai direto”, sem parar em nenhuma rodoviária das cidades que ficam no caminho, tornando a viagem mais rápida. “Se tiver uma forma de licença que seja barata, eu até posso fazer”, afirma Pedro, dono de dois ônibus.
Fiscalização
O coordenador da ANTT admite que a fiscalização para os ônibus que circulam entre estados é insuficiente.
“Não tinha conhecimento dessa rodoviária clandestina que funciona em Salvador. Nosso efetivo hoje é de 85 fiscais para cinco estados (MG, ES, BA, AL, SE). Não há como fiscalizar tudo. Esses fiscais são móveis entre os estados à medida da necessidade”, diz Cláudio René, informando que não há reforço no efetivo de fiscalização neste período de final de ano.
O coordenador da ANTT pede que sejam feitas denúncias de locais que servem com terminais clandestinos. “A Bahia é o grande atravessador de ônibus que vêm do Sudeste do Brasil, por exemplo. É fundamental que o passageiro denuncie”, conclui.
Linha verde é principal destino dos irregulares
Localidades margeadas pela Linha Verde e o Polo Petroquímico de Camaçari são os principais destinos de ônibus de turismo utilizados como linhas convencionais, ou seja, fazendo transporte irregular. É o que afirma Abdul Ramid, agente de fiscalização da Agência Reguladora dos Transportes na Bahia (Agerba).
“Por semana, aplicamos em média 40 autos de infração e nessa época de final de ano e durante o Verão isso aumenta. A multa é de R$ 2,8 mil”, explica Ramid, que coordena o posto da Agerba no Terminal Rodoviário de Salvador — o oficial. Os ônibus de turismo, segundo Ramid, precisam pegar uma licença para cada viagem. Se o veículo for parado numa fiscalização sem esse documento, é multado imediatamente.
“Esses ônibus de turismo não podem fazer o transporte regular de passageiros. No caso de uma linha de turismo, o motorista tem que ir na Agerba pagar uma taxa de R$ 63 e deixar um documento com o nome de todos os passageiros que vão embarcar”, diz.
Segundo Ramid, os fiscais da Agerba se dividem em quatro equipes (BR-324, BR-110 e BR-101 e rodoviária). “Paramos todos os ônibus de turismo para checar os documentos. Mas, nesta época de final de ano, é um fluxo grande de veículos”, explica ele.
Matéria original do Correio
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